2021-09-30

Os Sete Portões de Gondolin | The Seven Gates of Gondolin

 As descrições de Tolkien são às vezes tão precisas que é possível imaginar com detalhes os objetos que ele está mencionando. Assim é com os Sete Portões de Gondolin, descritos em Contos Inacabados. Ondolindeo Otso Andor é como se chamam em quenya.


Tolkien's descriptions are sometimes so precise that it is possible to imagine with details the objects he is mentioning. Thus it is with the Seven Gates of Gondolin, described in Unfinished Tales. Ondolindeo Otso Andor is how they are called in Quenya.



Assim chegaram finalmente a um amplo arco, com colunas altas de ambos os lados, esculpidas na rocha, e entre elas estava suspenso um grande portão corrediço de barras de madeira cruzadas, maravilhosamente entalhado e guarnecido de pregos de ferro. […]
“Passastes pelo Primeiro Portão, o Portão de Madeira”, disse Elemmakil.

[…] Tuor viu que o caminho estava barrado por um grande muro construído de lado a lado da ravina, com robustas torres de pedra de ambos os flancos. No muro havia um grande arco sobre a estrada, mas parecia que pedreiros o haviam bloqueado com uma única pedra enorme. À medida que se aproximavam, sua superfície escura e polida brilhava à luz de uma lâmpada branca suspensa sobre o meio do arco.
“Aqui está o Segundo Portão, o Portão de Pedra”, disse Elemmakil […]

Logo adiante chegaram a uma muralha ainda mais alta e forte do que a anterior e nela estava instalado o Terceiro Portão, o Portão de Bronze: uma grande porta dupla onde estavam suspensos escudos e placas de bronze, nos quais haviam sido gravados muitas figuras e sinais estranhos. Na muralha acima do seu lintel havia três torres quadradas, com telhados e revestimentos de cobre, que através de algum estratagema da arte de forjar estavam sempre brilhantes e reluziam como fogo aos raios das lâmpadas vermelhas alinhadas como tochas ao longo da muralha.

Assim se aproximaram por fim do Quarto Portão, o Portão de Ferro Forjado. Alta e negra era a muralha, e nenhuma lâmpada a iluminava. Quatro torres de ferro estavam assentadas sobre ela, e entre as duas torres internas estava colocada uma imagem de uma grande águia, trabalhada em ferro, à semelhança do próprio Rei Thorondor, pousado em uma montanha vindo da altura dos ares. Mas quando Tuor estava parado diante do portão pareceu a seus olhos maravilhados que olhava através de ramos e troncos de árvores imperecíveis, para dentro de uma pálida clareira da Lua. Pois vinha uma luz através das filigranas do portão, que eram forjadas e marteladas em forma de árvores com raízes contorcidas e ramos entrelaçados carregados de folhas e flores. E ao atravessar viu como isso podia acontecer; pois a muralha era de grande espessura, e não havia uma grade e sim três alinhadas, dispostas de forma que, para quem se aproximasse no meio do caminho, cada uma formasse parte do desenho, mas a luz além era a luz do dia.

Tuor […] foi conduzido ao Portão de Prata.
O muro do Quinto Portão era construído de mármore branco, e era baixo e largo, e seu parapeito era uma treliça de prata entre cinco grandes globos de mármore; e lá estavam parados muitos arqueiros de vestes brancas. O portão tinha a forma de três quartos de círculo e era trabalhado de prata e pérolas de Nevrast à semelhança da Lua; mas acima do Portão, sobre o globo central, havia uma imagem da Árvore Branca Telperion, trabalhada de prata e malaquita, com flores feitas de grandes pérolas de Balar.

Assim chegaram ao Portão Dourado, o último dos antigos portões de Turgon que foram feitos antes das Nirnaeth; e era muito semelhante ao Portão de Prata, exceto que o muro era construído de mármore amarelo e os globos e o parapeito eram de ouro vermelho; e havia seis globos e no meio, sobre uma pirâmide dourada, estava posta uma imagem de Laurelin, a Árvore do Sol, com flores trabalhadas em topázio, em longos cachos em correntes de ouro. E o próprio Portão era adornado com discos de ouro, de muitos raios, à semelhança do Sol, colocados entre desenhos de granadas e topázios e diamantes amarelos.

[…] era um caminho curto até o Sétimo Portão, chamado o Grande, o Portão de Aço que Maeglin construiu após o retorno das Nirnaeth, atravessado na ampla entrada da Orfalch Echor.
Não havia muro lá, mas dos dois lados havia torres redondas de grande altura, com muitas janelas, que convergiam em sete andares até um torreão de aço brilhante, e entre as torres erguia-se uma enorme cerca de aço que não enferrujava, mas rebrilhava fria e branca. Sete grandes colunas de aço lá havia, esguias, da altura e diâmetro de árvores jovens e fortes, mas encimadas por pontas acres que subiam aguçadas como agulhas; e entre as colunas havia sete barras transversais de aço, e em cada espaço sete vezes sete hastes de aço verticais, com cabeças como as lâminas largas de lanças. Mas no centro, sobre a coluna do meio, a maior, erguia-se uma enorme imagem do elmo real de Turgon, a Coroa do Reino Oculto, cravejada de diamantes.


Thus they came at length to a wide arch with tall pillars upon either hand, hewn in the rock, and between hung a great portcullis of crossed wooden bars, marvellously carved and studded with nails of iron. [...]
‘You have passed the First Gate, the Gate of Wood,’ said Elemmakil.

[...] Tuor saw that the way was barred by a great wall built across the ravine from side to side, with stout towers of stone at either hand. In the wall was a great archway above the road, but it seemed that masons had blocked it with a single mighty stone. As they drew near its dark and polished face gleamed in the light of a white lamp that hung above the midst of the arch.
‘Here stands the Second Gate, the Gate of Stone,’ said Elemmakil [...]

After a little space they came to a wall yet higher and stronger than before, and in it was set the Third Gate, the Gate of Bronze: a great twofold door hung with shields and plates of bronze, wherein were wrought many figures and strange signs. Upon the wall above its lintel were three square towers, roofed and clad with copper that by some device of smith-craft were ever bright and gleamed as fire in the rays of the red lamps ranged like torches along the wall.

Thus at last they drew near the Fourth Gate, the Gate of Writhen Iron. High and black was the wall, and lit with no lamps. Four towers of iron stood upon it, and between the two inner towers was set an image of a great eagle wrought in iron, even the likeness of King Thorondor himself, as he would alight upon a mountain from the high airs. But as Tuor stood before the gate it seemed to his wonder that he was looking through boughs and stems of imperishable trees into a pale glade of the Moon. For a light came through the traceries of the gate, which were wrought and hammered into the shapes of trees with writhing roots and woven branches laden with leaves and flowers. And as he passed through he saw how this could be; for the wall was of great thickness, and there was not one grill but three in line, so set that to one who approached in the middle of the way each formed part of the device; but the light beyond was the light of day.

Tuor [...] was brought to the Gate of Silver.
The wall of the Fifth Gate was built of white marble, and was low and broad, and its parapet was a trellis of silver between five great globes of marble; and there stood many archers robed in white. The gate was in shape as three parts of a circle, and wrought of silver and pearl of Nevrast in likenesses of the Moon; but above the Gate upon the midmost globe stood an image of the White Tree Telperion, wrought of silver and malachite, with flowers made of great pearls of Balar.

So they came to the Golden Gate, the last of the ancient gates of Turgon that were wrought before the Nirnaeth; and it was much like the Gate of Silver, save that the wall was built of yellow marble, and the globes and parapet were of red gold; and there were six globes, and in the midst upon a golden pyramid was set an image of Laurelin, the Tree of the Sun, with flowers wrought of topaz in long clusters upon chains of gold. And the Gate itself was adorned with discs of gold, many-rayed, in likenesses of the Sun, set amid devices of garnet and topaz and yellow diamonds.

[...] the way was short to the Seventh Gate, named the Great, the Gate of Steel that Maeglin wrought after the return from the Nirnaeth, across the wide entrance to the Orfalch Echor.
No wall stood there, but on either hand were two round towers of great height, many-windowed, tapering in seven storeys to a turret of bright steel, and between the towers there stood a mighty fence of steel that rusted not, but glittered cold and white. Seven great pillars of steel there were, tall with the height and girth of strong young trees, but ending in a bitter spike that rose to the sharpness of a needle; and between the pillars were seven cross-bars of steel, and in each space seven times seven rods of steel upright, with heads like the broad blades of spears. But in the centre, above the midmost pillar and the greatest, was raised a mighty image of the king-helm of Turgon, the Crown of the Hidden Kingdom, set about with diamonds.

Dia Internacional da Tradução | International Translation Day

Desde 2017, as Nações Unidas reconhecem 30 de setembro como Dia Internacional da Tradução. É a festa de S. Jerônimo, padroeiro dos tradutores segundo a Igreja Católica, que verteu a maior parte da Bíblia para o latim. Para mim, que traduzi e co-traduzi diversas obras (de Tolkien e outros autores) para o português, é uma oportunidade para recordar esses trabalhos e meus colegas de ofício.


Since 2017 the United Nations have recognised 30 September as International Translation Day. It is the feast of St Jerome, patron of translators according to the Catholic Church, who converted most of the Bible into Latin. For me, who translated and co-translated several works (by Tolkien and other authors) into Portuguese, it is an opportunity to remember those labours and my colleagues in the craft.


... alguns exemplos de "tradutor": | ... a few examples of "translator":

Gótico | Gothic • Japonês | Japanese [hon’yaku-sha] • Islandês | Icelandic
Armênio | Armenian [t’argmanich’] • Finlandês | Finnish • Coreano | Korean [yeogja]
Irlandês | Irish • Anglo-saxão | Anglo-saxon • Húngaro | Hungarian
Grego | Greek [metafrástis] • Amárico | Amharic [āsiterigwamī] • Hebraico | Hebrew [metargem]
Galês | Welsh • Russo | Russian [perevodchik] • Chinês | Chinese [yì zhě]
Polonês | Polish • Árabe | Arabic [mutarjim] • Tcheco | Czech
Turco | Turkish • Romeno | Romanian • Georgiano | Georgian [mtargmneli]


2021-09-27

A 10ª de Beethoven? | Beethoven's 10th?

 Beethoven escreveu nove sinfonias completas e deixou esboços para uma décima. Agora uma equipe da empresa alemã de telecomunicações Deutsche Telekom está usando inteligência artificial para compor uma "Décima" baseada nessas anotações. Aqui estão as informações básicas do projeto. Este documentário conta mais.


Beethoven wrote nine complete symphonies and left sketches for a tenth. Now a team at the German telecommunications company Deutsche Telekom is using artificial intelligence to compose a "Tenth" based on these notes. Here there is basic information on the project. This documentary tells more.

2021-09-24

O sequestro de Eichmann | Eichmann's kidnapping

O homem que organizou o Holocausto, Adolf Eichmann, escondeu-se na Argentina após a guerra. O filme animado The Driver is Red [O Motorista é Vermelho] conta como ele foi sequestrado por agentes do Mossad (o serviço secreto israelense) para ser julgado em Jerusalém.


The man who organised the Holocaust, Adolf Eichmann, went into hiding in Argentina after the war. The animated movie The Driver is Red tells how he was kidnapped by agents of the Mossad (the Israeli secret service) to be judged in Jerusalem.

2021-09-23

Música com Wolfram Tones | Music with Wolfram Tones

Wolfram Tones deixa você compor música "aleatória", que não é aleatória de verdade porque decorre da aplicação de algoritmos (o FAQ do site explica). Este é um fragmento de jazz que criei usando esse recurso. É interessante brincar com os estilos e as variáveis.


Wolfram Tones lets you compose "random" music, which is not really random because it arises from the application of algorithms (the site's FAQ explains). This is a jazz fragment I created using this resource. It is interesting to play around with the styles and variables.

2021-09-22

Na estrada em Gondor | On the road in Gondor

De que lado da estrada dirigiam os gondorianos? Do direito, não do esquerdo como seria de se esperar de um autor inglês. Neste trecho d'O Senhor dos Anéis, está claro que os veículos mais lentos andam à direita e os mais rápidos os ultrapassam à esquerda:

Mas a maior parte do tráfego saía pela estrada principal, e esta se virava para o sul [...] os carroções se moviam em três filas, uma mais veloz puxada por cavalos; outra mais lenta, grandes carroças com belos abrigos de muitas cores, puxadas por bois; e pela beira oeste da estrada iam muitos carros menores arrastados por homens esforçados. [O Senhor dos Anéis (HarperCollins Brasil, 2019), "Minas Tirith"]


On which side of the road did the Gondorians drive? On the right, not on the left as would be expected from an English author. In this passage from The Lord of the Rings, it is clear that slower vehicles drive on the right and the faster ones pass them on the left:

But most of the traffic went out along the chief highway, and that turned south [...] the wains were moving in three lines, one swifter drawn by horses; another slower, great waggons with fair housings of many colours, drawn by oxen; and along the west rim of the road many smaller carts hauled by trudging men. [The Lord of the Rings, "Minas Tirith"]

xkcd

 Este site, com seus quadrinhos simples, porém às vezes profundos, é obrigatório para matematas.


This site, with its simple yet sometimes profound comics, is a must for mathemaths.

Linguística tolkieniana | Tolkienian linguistics

 Diversos de meus artigos linguísticos tolkienianos foram publicados no site Tolkiendil. Agradeço a Damien Bador, que entrou em contato comigo e se ofereceu para coordenar a publicação.


Several of my Tolkienian linguistic articles are were published on the Tolkiendil site. I thank Damien Bador, who contacted me and offered to co-ordinate publication.

Uma sub-criação coletiva | A collective sub-creation

 Ill Bethisad (que tem seu próprio Wiki) é nosso próprio mundo em uma linha de tempo alternativa construída coletivamente, que parte de alguns pontos de divergência. E a inspiração original foi linguística! Explore o IBWiki, que tem um verbete sobre Tolkien (que lá foi Sir Ronald) e outro sobre O Senhor dos Anéis, com o Poema do Anel em línguas sub-criadas.


Ill Bethisad (which has its own Wiki) is our own world on a collectively-constructed alternative timeline, starting from some points of divergence. And its original inspiration was linguistic! Explore the IBWiki, which has an entry on Tolkien (who was Sir Ronald there) and another one on The Lord of the Rings, with the Ring-verse in sub-created languages.

Leitores de Tolkien | Tolkien's readers

As citações abaixo aplicam-se perfeitamente a todos os tolkiendili - os apreciadores das obras de J.R.R. Tolkien. Em português, ficam respectivamente:
"Algum dia você terá idade bastante para ouvir contos de fadas outra vez."
"Que leitor desejo para mim? O mais ingênuo, que esquece a mim, a si mesmo e ao mundo, e vive somente no livro."


The quotations below apply perfectly to all tolkiendili - those who enjoy the works of J.R.R. Tolkien. The second one runs thus in English:
"Which reader I desire for myself? The most ingenuous, who forgets about me, himself and the world, and lives only in the book."


Some day you will be old enough to hear fairy tales again. (C.S.Lewis)
Welchen Leser ich mir wünsche? Den unbefangensten, der mich, sich und die Welt vergißt und in dem Buche nur lebt. (J.W. von Goethe)

2021-09-14

Uma página original de Tolkien | An original page by Tolkien

 J.R.R. Tolkien fazia extensas revisões em seus textos, que eram datilografados ou manuscritos (a lápis e com canetas de diversas cores). Mesmo depois de publicados, seus textos não haviam necessariamente atingido a forma final. Este exemplo, de Smith of Wootton Major [Ferreiro do Bosque Maior], mostra a complexidade das revisões e dá uma ideia de quão difícil tem sido o trabalho dos editores.


J.R.R. Tolkien revised extensively his texts, which were written on the typewriter or by hand (in pencil and in pens of several colours). Even after they had been published, his texts had not necessarily reached their final form. This example, from Smith of Wootton Major, shows the complexity of revisions and hints at how difficult the editors' work has been.




2021-09-13

Uma foto do Exeter College | A photo of Exeter College

 No final de 1980 estive em Oxford e tirei esta foto, que mostra um estudante passando pelo Front Quadrangle [Pátio Dianteiro] do Exeter College, onde J.R.R. Tolkien se formou. Uma versão em preto e branco dessa imagem foi usada como ilustração de capa de meu livro "Explicando Tolkien", de 2003.

Em anos recentes alguns tolkienistas brasileiros, em visita a Oxford, recriaram a cena colocando-se no lugar do estudante anônimo. Essas fotos têm para mim um valor simbólico, demonstrando que consegui inspirar outros estudiosos a se concentrarem na vida e na obra de Tolkien. Fico feliz com essa homenagem.


In late 1980 I was in Oxford and took this photo showing a student passing the Front Quadrangle at Exeter College, where J.R.R. Tolkien graduated. A black and white version of this image was used as cover illustration of my 2003 book "Explicando Tolkien" [Explaining Tolkien].

In recent years some Brazilian Tolkienists visiting Oxford have recreated the scene putting themselves in the place of the anonymous student. Those photos have symbolic value for me, demonstrating that I have succeeded in inspiring other scholars to concentrate on Tolkien's life and work. I am glad of this homage.

Front Quadrangle from Main Entrance (Porters' Lodge)

1980-09-23   |   51.75367, -1.25617 ≈ 51°45'13"N 1°15'22"W


Antigamente era tudo melhor?

 Em sites de fotos antigas e relatos do século passado, é comum ler comentários como “Antigamente era tudo melhor e mais fácil”, “As pessoas eram educadas e se vestiam bem”, “Que saudade daqueles dias de outrora”. Afirmo que os velhos tempos eram perigosos, desconfortáveis e injustos, em que pesem as lembranças de nossa infância, quase sempre luminosas.


Em fotos da primeira metade do século XX, quase todos os homens usam terno (muitas vezes com colete) e chapéu, em todas as estações do ano. Proporcionalmente, veem-se poucas mulheres nas ruas.

A violência doméstica e os preconceitos de raça e opção sexual eram ainda mais comuns que hoje em dia, mas não eram algo que se mencionasse ou fosse objeto de protesto público; pelo contrário, eram escondidos.

O analfabetismo era majoritário em vastas áreas do país. Os votos de cabresto eram a regra nas regiões menos esclarecidas; os candidatos ricos e poderosos influenciavam as eleições.

A poliomielite e a varíola assolavam a população infantil, sem pouparem os adultos; isso sem falar nas outras doenças.

Era muito comum cozinhar e fritar usando banha e outras gorduras animais. Aliás, as frituras estavam mais em moda que hoje.

A expectativa de vida era bem inferior à atual, e a mortalidade infantil mais alta; muitos dos diagnósticos e tratamentos que hoje são acessíveis a muitos nem haviam sido criados.

Protetor solar nem era um conceito presente na consciência das pessoas, incluindo a classe médica.

Os eletrodomésticos se restringiam a um mínimo técnico; qualquer serviço de casa era penoso e consumia muito tempo.

Os carros daquela “era dourada” não costumavam ter ar condicionado, nem direção hidráulica ou câmbio automático. O cinto de segurança era desconhecido, e viajávamos sem o mínimo de proteção nem contra pequenos impactos no trânsito urbano.

Fumava-se cigarro em toda a parte: no avião e nos restaurantes (ali havia as chamadas “áreas de não-fumantes”, onde estes ficavam restritos e nem um pouco a salvo da fumaça), assim como nos locais de trabalho, nos ônibus...

O acesso a informação e comunicação era bem mais limitado até os últimos anos do século XX: a revolução da internet era inimaginável, e quem quisesse falar ao telefone longe de casa ou do trabalho muitas vezes se sujeitava às filas nos orelhões.

A qualidade e variedade da programação de TV, tanto pelo conteúdo quanto pela técnica, era limitadíssima; os filmes estreavam nos cinemas meses depois do país de origem.

Atualmente qualquer celular é dotado de GPS. Ainda no fim do século passado, o único modo de se orientar na cidade ou na estrada eram os mapas, que precisavam ser atualizados e exigiam um mínimo de habilidade para serem úteis.

A variedade de mercadorias disponíveis aumentou muito nas últimas décadas. Ainda em meados do século XX produtos importados eram raros, e quase não havia alternativas de compra – e portanto opções de qualidade – para a maioria dos artigos.

A automação bancária atingiu níveis que eram impensáveis poucas décadas atrás. Valores altos tinham de ser pagos em dinheiro ou cheque, e todos andavam com a carteira recheada, com o risco e desconforto que isso implica.


Por estas e outras, meus caros, não elogiemos demais os “bons velhos tempos” e sejamos gratos pela vida relativamente fácil e segura de que desfrutamos hoje.

2021-09-10

Ambigramas | Ambigrams

 Ambigramas são textos que podem ser lidos de diferentes pontos de vista, p. ex. girados ou espelhados. Alguns exemplos que criei estão mostrados abaixo.


Ambigrams are texts that can be read from different viewpoints, e. g. rotated or mirrored. Some examples I created are shown below.


Meu nome | My name - 


Minha esposa Eveli | My wife Eveli - 

Meu amigo Paulo Otto | My friend Paulo Otto - 

Meu neto Chris | My grandson Chris - 

Meu avô Richard | My grandfather Richard - 

J. R. R. Tolkien - 

... e este desenho, que não é ambigrama, e sim meu sobrenome escrito usando apenas três formas diferentes para as letras, e disposto em rede periódica | ... and this design, which is not an ambigram, but my surname written using only three different shapes for the letters, and set as a periodic network - 

2021-09-06

Hiero-SdA | Hiero-LotR

 E se O Senhor dos Anéis tivesse sido escrito em hieróglifos egípcios? Esta poderia ser a página de rosto. [Clique para ampliar]


What if The Lord of the Rings had been written in Egyptian hieroglyphs? This could be the title page. [Click to enlarge]



O Poema do Anel em médio inglês | The Ring-verse in Middle English

 Na linguagem e métrica dos Contos de Cantuária de Chaucer (ſ é o "s longo", usado no início e meio das palavras)


In the language and metre of Chaucer's Canterbury Tales (ſ is the "long s", used at the beginning and middle of words)




2021-09-03

Polinemas | Polynemas

 De quantas maneiras n segmentos podem ser conectados por suas extremidades? O conceito de polinema, detalhado aqui, mostra as alternativas topologicamente distintas.

Este problema é um tanto trivial, não tão interessante quanto o dos Polígonos Canônicos.


In how many ways can n edges be connected by their ends? The concept of polynema, detailed here, shows the topologically distinct alternatives.

This problem is somewhat trivial, not as interesting as the one about Canonical Polygons

2021-09-02

Ler Tolkien no Brasil | Reading Tolkien in Brazil

 Este gráfico mostra as obras de J.R.R. Tolkien atualmente disponíveis no Brasil, e algumas ainda inéditas.


This graphic shows the works by J.R.R. Tolkien currently available in Brazil, and some still unpublished.




Polígonos canônicos | Canonical polygons

Polígonos canônicos são aqueles traçados em um retículo quadrado, nos lados ou nas diagonais, sem prolongar nenhum lado na mesma direção, e sem interseções de lados nem vértices duplos. Esta é a definição simples dessas figuras que descobri em 1977. Um estudo mais detalhado pode ser obtido aqui.
Para 3 ... 8 lados, existem 1, 3, 3, 9, 13, 52 polígonos canônicos.
WolframMathWorld menciona os polígonos canônicos.

Canonical polygons are those drawn on a square lattice, on edges or diagonals, without continuing any edge in the same direction, and without intersection of edges or double vertices. This is the simple definition of these figures I discovered in 1977. A more detailed study can be obtained here.
For 3 ... 8 edges, there exist 1, 3, 3, 9, 13, 52 canonical polygons.
WolframMathWorld mentions canonical polygons.