2022-11-24

Um ambigrama tolkienista | A Tolkienist ambigram

 Ambigramas são textos que podem ser lidos de diferentes modos: girados, refletidos etc. Finalmente consegui fazer um bom ambigrama rotacional com JRRT, as iniciais de Tolkien.


Ambigrams are texts that can be read in different ways: rotated, reflected etc. I finally managed to make a good rotational ambigram from JRRT, Tolkien's initials.




2022-09-29

Narnia!

 As aventuras não param!

Depois de ter vertido uma dúzia de livros de J.R.R. Tolkien, resolvi agora aceitar um novo desafio. Vou traduzir As Crônicas de Nárnia de C.S. Lewis, o grande amigo de JRRT. São sete obras, publicadas originalmente entre 1950 e 1956, que já venderam mais de 100 milhões de exemplares em dezenas de idiomas.

A HarperCollins Brasil me deu a oportunidade de me aprofundar em mais este mundo de fantasia, cuja nova versão espero trazer logo - e pouco a pouco - aos leitores brasileiros.


Adventures do not cease!

Having translated a dozen books by J.R.R. Tolkien, I now decided to accept a new challenge. I am going to translate The Chronicles of Narnia by JRRT's great friend C.S. Lewis. These are seven works, originally published between 1950 and 1956, which have already sold more than 100 million copies in tens of languages.

HarperCollins Brasil has given me the chance of going deeper into this other fantasy world, whose new version I expect to bring soon - and little by little - to Brazilian readers.



2022-06-17

A Queixa do Anano Mîm

Mîm foi um dos últimos ananos-miúdos (Noegyth Nibin). No ano 486 da Primeira Era, foi aprisionado pelos homens do bando de Túrin Turambar. Salvou a vida levando-os à sua morada nas cavernas de Amon Rûdh. Juntamente com seu filho Ibun, ficou por um ano com os proscritos. No inverno de 487, salvou-se de um ataque de orques revelando a estes a localização de Bar-en-Danwedh, que os homens haviam estabelecido em Amon Rûdh. Na batalha que se seguiu, Túrin – que àquela altura se tornara amigo de Mîm – foi aprisionado e levado vivo a Angband. Em 501, depois que Nargothrond foi abandonada por Glaurung, Mîm ali se estabeleceu, e ali foi morto por Húrin em 502, em vingança pela traição contra Túrin.

Acerca da entrada de Mîm nos Grandes Contos, vide o capítulo “Sobre Mîm, o Anano” em Os Filhos de Húrin (ed. HarperCollins Brasil, 2020).

Descrevendo o estado de espírito do anano-miúdo em relação aos humanos, Tolkien compôs o poema The Complaint of Mîm the Dwarf [A Queixa do Anano Mîm], cujo paradeiro se desconhece. Porém a editora Klett-Cotta, responsável pela publicação dos livros de Tolkien na Alemanha, publicou 35 anos atrás a obra Das erste Jahrzehnt 1977-1987: Ein Almanach [O Primeiro Decênio 1977-1987: Um Almanaque], contendo uma tradução para o alemão do poema e de um subsequente trecho em prosa – Mîms Klage [A Queixa de Mîm]. O tradutor foi Hans J. Schütz; o livro foi distribuído apenas a livreiros e amigos da editora.

O texto que se segue é uma retradução a partir do alemão. Assim sendo, deve ser lido apenas como uma paráfrase, da qual se pode depreender o sentido do original inglês, mas não seus detalhes vocabulares, estilísticos e semânticos. Servirá no máximo – enquanto o original não surgir e for publicado – como um guia daquilo que J.R.R. Tolkien quis nos contar sobre tão singular personagem.

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Sob uma montanha, em terra agreste,

havia funda caverna repleta de areia.

Ao anoitecer estava Mîm diante de sua morada:

seu dorso era curvado e sua barba grisalha;

caminhara por longas sendas, inóspitas e frias,

o pequeno anano Mîm, com duzentos anos de idade.

Tudo o que criara, a obra de suas mãos,

com buril e formão, em labor infindo,

inimigos lhe roubaram; e só sua vida e alguns objetos

do ofício lhe restaram, e longa lâmina

na bainha sob o manto esfarrapado, e era envenenada.

Piscava os olhos turvos, inda vermelhos pela fumaça;

pois, entulhando-os com espinhos e urze, ainda tinham

cruelmente incendiado seus corredores,

e assim saiu ele, sufocado e quase a vomitar.

Mîm cuspiu na areia e então começou a falar:

 

Tim-tim-tim, tim-tom, tom-tom, tim!

Sem tempo para comer, sem tempo para beber, tom, tim!

Tim-tom, sem tempo, tom-tim, sem tempo para demorar!

Sem tempo para dormir! Sem noite e sem dia, somente pressa!

Só prata e ouro, martelados e dobrados na forma,

e pedrinhas duras, reluzentes e frias.

Tim-tim, verdes e amarelas, tim-tim, azuis e brancas:

Sob minhas mãos brotaram e cresceram devagar

longas folhas e flores, e olhos rubros brilharam

em animais e aves entre os ramos e flores.

Todas as coisas que meus olhos haviam visto quando ainda eram límpidos, quando eu ainda era jovem e o mundo era amigável. Como me rebaixei para as tornar mais duradouras que a lembrança! E elas me brotavam do coração e se curvavam sob minhas mãos, dobravam-se e se juntavam em formas singulares e belas – sempre crescendo e mudando, e no entanto sempre enraizadas na memória do mundo e em meu amor por ele. Então, certo dia, detive-me por um instante e ergui a cabeça, e minhas  mãos repousaram na bancada de pedra. Contemplei minha obra. Pois ela crescera de Mîm, porém não era mais Mîm, e ele se admirou dela. Jóias divisei, brilhando à luz de meu pequeno fogo de forja, e agora elas jaziam em minha  mão morena, que era velha, mas ainda delicada e hábil. E pensei: Mîm foi muito sábio. Mîm trabalhou com muito afinco. Mîm tinha em si um fogo mais quente que a forja. Mas Mîm o deixara fluir quase todo para dentro daquelas coisas. Elas são parte de Mîm, pois sem elas não sobraria muito dele.

Assim, pois, imaginei um modo conveniente de guardá-las, como objetos em um depósito, para que a memória sábia as reencontrasse. Pois jaziam em toda a parte, no solo ou empilhados nos cantos, e muitos pendiam de pinos nas paredes – como as páginas de um velho livro com histórias dos ananos, carcomido pelos tempos e devastado pelos ventos.

Clac-clic-zás! Crás-tap, tam-tam-tap! Tac-tac! Que venham madeira e ossos! Sem perda de tempo. Começar a obra. Pensar, serrar, entalhar, burilar, limar, pregar. Sem tempo de descansar. Assim fiz minha grande arca, provida de compartimentos e gavetas secretas. Dragões vigias fitavam da tampa, enrodilhados e se erguendo pelas afiadas garras. As dobradiças estavam postas entre seus dentes afiados. Velhos ananos com machados estavam de pé junto à poderosa fechadura. Clac-clac, tac-tac! Martelo e pregos, tim-tom, a chave foi forjada e amarrada com magia. Eia! fechou-se a grande tampa e também meus olhos exaustos. Por muito tempo dormi, de cabeça deitada sobre minha arca do tesouro, meu repositório de lembrança e anos esvoaçados.

Dormi por muito tempo? Não sei quanto tempo se passou. O fogo da forja se apagara, mas uma fumaça sufocante me fez sobressaltar. Vieram homens e roubaram tudo o que eu possuía: o minério que há muito tempo eu extraíra das rochas, os montículos de pedras preciosas; e carregaram consigo minha arca. Expulsaram-me com fumaça como a um rato, e com zombeteira compaixão me deixaram correr como um animal selvagem, através de espinheiros e urze em chamas ao redor de meu lar profundo. Riram quando pisei nas cinzas quentes, e o vento carregou para longe minhas imprecações. Meus olhos vermelhos não reconheceram a senda; e só o que pude salvar foi um saco com pequenas ferramentas e, por baixo de um manto velho e esfarrapado, minha faca oculta em sua bainha negra, com runas de veneno na lâmina. Muitas vezes a afiei, cuspindo na lâmina até ela reluzir sob as cruéis estrelas em lugares ermos.

Assim privaram Mîm de todas as suas lembranças e de todos os alegres saltos e ímpetos do espírito, para fazerem gemas para os punhos de suas espadas, anéis para dedos ávidos, e luas e estrelas e adornos sem arte para os peitos de mulheres altivas. Permutaram-nas por pequenos reinos e amizades traiçoeiras; cobiçaram-nas; assassinaram por elas e obscureceram o ouro com o sangue dos parentes. Há um fogo nas lembranças dos velhos ananos, e emana uma força de suas mãos delgadas, que impele os homens à loucura, mesmo que não se deem conta disso.

Mas agora estou velho e amargo, e em meu refúgio nas montanhas selvagens devo reiniciar o trabalho, tentar capturar a reverberação de minhas lembranças antes que elas se desfaçam por completo. Ai, meu trabalho inda é bom; mas está cercado de feitiço. Falta-lhe o frescor, um véu se estende entre mim e as coisas que vejo e crio, como se as formas e as luzes se desfizessem em uma névoa de lágrimas. O que criei outrora eu vejo de relance, mas não aquilo que vi certa vez. Dizem que sou perigoso, repleto de ódio e insidioso, o velho Mîm, o pequeno anano. Se me agarram eu mordo com dentes negros ou esfaqueio no escuro, e nada pode curar a ferida de minha faca. Não se atrevem a se aproximar de mim; mas de longe disparam flechas em minha direção quando me atrevo a sair para contemplar o sol. Outrora não era assim, e não é bom que seja assim agora. O percurso do mundo se torna torto e duvidoso. O engano circula, seres surgem arrastando-se de lugares escuros, e sob meus dedos cresce o temor e não o encanto. Pudesse eu perdoar, talvez ainda conseguisse moldar uma folha, uma flor coberta de orvalho, como ele brilhava outrora junto a Tarn Aeluin, quando eu era jovem e sentia pela primeira vez como eram hábeis os meus dedos. Mas Mîm não pode perdoar. Ainda arde a brasa em seu coração. Tim-tom, tom-tim! Sem tempo para pensar!

 

2022-03-11

Os primeiros 60 anos de Tolkien em português | The first 60 years of Tolkien in Portuguese

Nos últimos 60 anos, duas dezenas de tradutores se dispuseram à difícil tarefa de traduzir para o português prosa e poesia de J.R.R. Tolkien. O resultado foram cinquenta edições publicadas de ambos os lados do Atlântico. Em alguns casos – como os tomos que compõem a obra mais conhecida, O Senhor dos Anéis – o leitor pode professar sua preferência por até cinco versões diferentes. Cada uma, compreende-se, reflete as escolhas do tradutor e da época em que veio a público. No entanto, o crescente interesse pelo autor, impulsionado entre outros fatores pelos estudos acadêmicos – sem esquecer as adaptações cinematográficas – vem demandando do ofício do tradutor um apuro cada vez maior. Em seis décadas, desde a versão do Hobbit errônea e comicamente intitulada O Gnomo até a complexíssima edição póstuma da Natureza da Terra-média, realizada por uma equipe de tradutores, essa sequência de livros publicados em Portugal e no Brasil mostra como vêm evoluindo os estudos tolkienianos e a apreciação do autor.

Meu catálogo de todas essas edições, realizado com a colaboração de Inês Anacleto em Portugal, pode ser acessado por este link ou pelo site Tolkien Talk.


In the last 60 years, some twenty translators have tackled the difficult task of translating J.R.R. Tolkien's prose and poetry into Portuguese. The result were fifty editions published on both sides of the Atlantic. In some cases – like the tomes that comprise the best-known work, The Lord of the Rings – the reader may indulge in his preference for up to five different versions. Each one, let it be understood, reflects the translator's choices and those of the times in which it was published. Nevertheless, growing interest for the author, driven among other factors by academic studies – not forgetting the movie adaptations – has been demanding a growing care from the translator's handicraft. In six decades, from the Hobbit version wrongly and comically titled O Gnomo to the very complex posthumous edition of The Nature of Middle-earth, brought about by a team of translators, this sequence of books published in Portugal and Brazil shows how Tolkienian studies and the author's appreciation have been evolving.

My catalogue of all these editions, produced with the collaboration of Inês Anacleto in Portugal, may be accessed on this link or on the Tolkien Talk site (in Portuguese).


 

2022-03-02

A língua internacional Esperanto

 Aqui está um resumo conciso que fiz sobre o funcionamento do Esperanto, procurando explicar o máximo em uma só página.

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2022-01-31

Meu trabalho com Tolkien | My work with Tolkien

 Ao longo dos anos venho traduzindo livros de J.R.R. Tolkien, e outros que falam sobre sua vida e obra, e até livros de jogos ambientados em seu mundo secundário sub-criado. Em 2003 também publiquei minha própria obra sobre O Professor - Explicando Tolkien, já um tanto desatualizada.

Todo esse trabalho está resumido nos infográficos abaixo, um sobre obras do próprio JRRT e outro sobre a literatura derivada.

* Edição de 2022-02: Incluí minha tradução Tolkien e a Grande Guerra. *


Along the years I have been translating books by J.R.R. Tolkien, and others that speak of his life and work, and even game books set in his sub-created secondary world. In 2003 I also published my own work about The Professor - Explicando Tolkien [Explaining Tolkien], already somewhat outdated.

All this work is summarized in the infographics below, one about works by JRRT himself and the other about the derived literature.

* Edit 2022-02: I have included my translation of Tolkien and the Great War. *


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2022-01-14

Conjetura de Collatz | Collatz Conjecture

A Conjetura de Collatz é simples de enunciar, mas dificílima de provar.
Tome um número inteiro positivo. Se for par, divida-o por 2. Se for ímpar, multiplique-o por 3 e some 1. Repita essas operações com o novo número obtido. Depois de um certo número de passos (que pode ser muito grande!), você cairá neste ciclo: 4 → 2 → 1 → 4...
  • Um exemplo começando com 12: 12, 6, 3, 10, 5, 16, 8, 4, 2, 1
  • Um exemplo mais longo começando com 19: 19, 58, 29, 88, 44, 22, 11, 34, 17, 52, 26, 13, 40, 20, 10, 5, 16, 8, 4, 2, 1
Existe algum número que não entre nesse ciclo? A Conjetura de Collatz diz que não: todos os inteiros acabam chegando ali mais cedo ou mais tarde.
O projeto Collatz Conjecture usa o poder computacional de milhares de computadores distribuídos em todo o mundo, em seus períodos ociosos, para tentar demonstrar que a conjetura é falsa.
Números muito grandes já foram perseguidos em suas trajetórias, às vezes imensas, sem que fosse encontrado um contra-exemplo sequer. Acompanhei o número 2.374.013.501.454.158.593.327 por 1.829 passos sem demonstrar a falsidade da conjetura. Os cálculos continuam.


The Collatz Conjecture is simple to enunciate, but very difficult to prove.
Take a positive integer. If it is even divide it by 2. If it is odd multiply it by 3 and add 1. Repeat these operations with the new number obtained. After a certain number of steps (which may be very large!), you will reach this cycle: 4 → 2 → 1 → 4...
  • An example starting with 1212, 6, 3, 10, 5, 16, 8, 4, 2, 1
  • A longer example starting with 19: 19, 58, 29, 88, 44, 22, 11, 34, 17, 52, 26, 13, 40, 20, 10, 5, 16, 8, 4, 2, 1
Does any number exist that does not enter this cycle? The Collatz Conjecture says no: every integer reaches that point sooner or later.
The Collatz Conjecture project uses the computational power of thousands of computers distributed all over the world, in their idle periods, to try to demonstrate that the conjecture is untrue.
Very large numbers have already been tracked in their sometimes immense trajectories, and not a single counterexample has been found. I tracked the number 2,374,013,501,454,158,593,327 for 1,829 steps without disproving the conjecture. Calculations go on.